PANDEMIA DA INSENSATEZ

Enquanto os números de mortos e infectados pelo Covid19 aumentam exponencialmente, assistimos a um trágico espetáculo de insensatez no combate à doença, nunca ficou tão explicita a indigência da administração pública brasileira, em um momento tão trágico da nossa história.
Vamos focar na nossa realidade local. A Prefeitura decretou a quarentena exatos trinta dias antes do aparecimento do primeiro caso na cidade. A quarentena serve para retardar o avanço da doença, dando tempo para que a administração aumente o número de vagas hospitalares e se equipe para tratar os doentes futuros. Nesse período o que fez a Prefeitura? Mandou para a Casa de Caridade, metade dos recursos destinados pela Câmara de Vereadores e comprou máscaras sob suspeita de superfaturamento.
Apareceu o primeiro caso em Leopoldina e a quarentena foi mantida. Nesse momento, o que se recomendava era o início dos testes em massa para se delimitar o avanço da doença na cidade e que o aumento da estrutura hospitalar estivesse pronta. Nada disso foi feito, a Casa de Caridade amplia suas instalações sem a participação da Prefeitura e essa Decreta Calamidade Pública, o que lhe permite comprar e contratar por dispensa de licitações. Ato contínuo, começam as contratações de terceirizados e cargos de confiança. Nada de testes em massa, nem compra de respiradores e medicações. Nos postos de saúde faltam médicos e remédios, doentes crônicos e grávidas tem os seus cuidados negligenciados.
O aumento dos casos continua, a quarentena também, aí já contando com a resistência de muitos setores da sociedade, que não viam sentido em se fechar a atividade econômica sem ampliar as condições de combate à doença. As pessoas começaram a perceber que a quarentena é discricionária e afeta as pessoas de forma desigual, além de atitudes sem nenhuma explicação lógica.
Vejamos dois casos, uma loja de biscoitos e balas e uma de ferragens, fechadas por sessenta dias. A loja de ferragem tem o seu estoque mantido e fica à espera da reabertura, o dono se vira para pagar empregados e aluguéis, o Governo Federal editou medidas para facilitar isso. A loja de biscoito tem seu estoque com prazos de validade curtos, em sessenta dias todo o estoque está perdido, impróprio para o consumo. Dificilmente o dono conseguirá manter seu negócio à espera da reabertura. Por contas de casos como esses, vinte lojas encerraram suas atividades e tivemos mais de quatrocentos desempregados até o final de abril. O que fez a Prefeitura? Colocou termômetro digital na barreira sanitária e apertou a fiscalização sobre os empresários que buscavam um meio de manter seus negócios.
Os casos de contaminação continuam a crescer e as pessoas começam a se dar conta que as muitas medidas administrativas tomadas não produzem os resultados esperados. O caso dos Bancos é ilustrativo, os Bancos reduziram o seu horário de atendimento, mas o público que precisa dos serviços bancários é o mesmo, o resultado foi tumulto e aglomeração na porta das agências. O bom senso indicaria a ampliação do horário de atendimento ou a divisão das agências em dois turnos, metade na parte da manhã e a outra metade à tarde. A situação de Leopoldina nesse contexto é complicada, todas as agências bancárias e algumas lotéricas estão num raio de cem metros do início da Rua Cotegipe, o resultado disso é que o centro da cidade passou a ter mais gente amontoada do que antes da pandemia. Culpa do povo? Claro que não, culpa dos responsáveis pelas agências e da Prefeitura que não foi capaz de disciplinar isso.
A contaminação continua crescendo, os leitos de UTI estão quase totalmente ocupados, a população está amedrontada, e o que faz a Prefeitura? Fecha o morro do Cruzeiro.
Com o Cruzeiro fechado ao público a administração começa a aventar a possibilidade de se decretar um fechamento radical da cidade, tratado como lockdown. E qual seria o objetivo desse fechamento? A Prefeitura irá construir um hospital de campanha? Vai iniciar os testes em massa para se isolar os infectados? Duvido muito. Na minha opinião, esse fechamento, se vier, nada mais será que um lance político. A sociedade está exausta dessa política errática e incoerente e, dificilmente, irá acatar essa determinação. Em face disso, o Prefeito poderá posar de vítima, dizendo que fez tudo que estava ao seu alcance, mas não foi respeitado, os comerciantes ávidos por lucros e os políticos de oposição se uniram contra ele na sua missão de proteger o povo, ou algo do gênero. O roteiro é fuleiro, mas é como eu vejo a coisa.
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