Falta de área de celular prejudica usuários de rodovias da região
Dificuldade fica evidente em casos como acidentes; projeto em tramitação no Senado quer obrigar a cobertura de serviços móveis nas estradas brasileiras

Seja em um acidente de trânsito ou outra necessidade, o aparelho de telefone celular é item essencial nas estradas. Entretanto, quando problemas acontecem durante viagens em rodovias da região, a comunicação é dificultada pela falta de cobertura adequada das operadoras. Usuários das rodovias que passam por Juiz de Fora, como MG-353, BR-040 e BR-267, relatam ausência de sinal do celular em trechos longos, muitos sem estabelecimentos que podem servir como outra opção para recorrer à assistência. Entre as obrigações previstas para a telefonia móvel pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a área de abrangência obrigatória engloba apenas distritos sedes dos municípios, representando, ao menos, 80% da área urbana. O órgão estuda a situação atual da rede de telefonia móvel e pretende estabelecer mais obrigações de cobertura nos municípios brasileiros. Por outro lado, um projeto de lei em tramitação no Senado Federal procura alterar a Lei Geral de Telecomunicações, acrescentando a obrigatoriedade do serviço móvel para as rodovias federais e estaduais.
A ausência de área de celular em estradas prejudica, especialmente, quem viaja diariamente e depende do serviço para resolver questões do trabalho. O motorista de ônibus da empresa Unida, Osvaldo de Oliveira Júnior, trabalha em estrada no período noturno, partindo de Juiz de Fora para cidades como Ipatinga, Itabira e Governador Valadares. No caminho, a ausência da cobertura o impede de realizar determinados procedimentos. “Nós sempre passamos aperto, porque pega esse horário da noite, geralmente precisa ligar para a garagem ou para o guichê, para saber como está a situação da linha, e não consegue falar”. Em uma situação em que levava 38 passageiros, um pneu do ônibus furou e Osvaldo teve dificuldades em contatar a empresa, conseguindo apenas pelo celular de uma cliente. “Se eles melhorassem a cobertura, para nós seria muito bom, até mesmo por questão de segurança, de acidente e de assalto, que está tendo muito.”
A esteticista Ana Cláudia Santana Henriques também tem o trabalho impactado pela falta de cobertura, já que ela viaja diariamente pela BR-040, no percurso entre Juiz de Fora e Barbacena. “Eu trabalho muito com o telefone para fazer agendamento de paciente e sempre acontece de perder o sinal na estrada”, conta. “Às vezes, eu estou conversando com paciente e isso atrapalha muito. Eu viajo tanto de carro quanto de ônibus, e é a mesma coisa, sempre falta área na estrada e isso me prejudica.”
Cobertura
Quem costuma viajar de Juiz de Fora para Leopoldina, pela BR-267, por exemplo, encontra sinal de celular apenas em alguns pontos da estrada. De acordo com a jornalista Ruth Flores Gonçalves, que costuma realizar o trajeto, a cobertura só atende próximo às cidades ao longo do caminho. Para ela, em situações de emergência, o sinal é necessário. “Comigo já aconteceu duas vezes de estar dentro do ônibus no trecho Juiz de Fora/Leopoldina, e acontecer acidente na estrada. Nisso, ficamos parados por horas, esperando terminar de resolver, e eu não conseguir entrar em contato com os meus pais. Eles já sabem o horário que eu chegaria. É um trecho curto, e eles ficam muito preocupados porque passa muito da hora prevista. Então, se tivesse cobertura, eu poderia ter entrado em contato com eles e avisado o que tinha acontecido.”
Do lado oposto da BR-267, em direção ao Sul de Minas, a ausência de cobertura persiste até Caxambu, mesmo quando a via passa por outras cidades no trecho, segundo o arquiteto Felipe Arthur Mota. Viajando com frequência para Juiz de Fora partindo de São Lourenço, Felipe já passou por diversas situações que poderiam ser facilmente resolvidas caso houvesse sinal de celular, como quando teve o pneu do automóvel furado. “Eu tentei de tudo pra tirar o estepe sem ter sucesso. A caminhonete estava sem manual e tem um ‘truque’ para fazer o estepe descer. No meio da estrada não tem sinal. Eu não conseguia ligar pra ninguém, nem entrar na internet pra procurar como fazer. Fiquei duas horas parado tentando tirar o estepe do lugar, até que um caminhoneiro parou e me ajudou.” Em outras ocasiões, a falta de meios para contato preocupou Felipe, bem como sua família. “Acredito que as famílias das pessoas que pegam carona, ou mesmo vão de ônibus, devam ficar muito preocupadas até ter notícias. Ainda mais nessa estrada, que costuma ter muito acidente, muito caminhão e muitos trechos longos e isolados, sem nenhum estabelecimento.”
Susto na MG-353
De Juiz de Fora a Ubá, a MG-353 também conta com cobertura apenas em alguns trechos, como explicou o estudante universitário Nitay Krishna. “O momento que eu mais precisei do celular na estrada foi quando sofri um acidente. Estávamos em cinco no carro e fomos parar em um barranco ao lado da estrada. Todos ficaram bem, mas ainda precisávamos contatar algumas pessoas. Dos cinco celulares, apenas um, por sorte, tinha sinal, e foi dali que tivemos que fazer todos os contatos, desde guincho e seguradora até para familiares e conhecidos”, conta.
Projeto de lei visa obrigatoriedade de cobertura em estradas
Um projeto de lei em tramitação no Senado Federal propõe alteração na Lei Geral de Telecomunicações, por meio de um acréscimo de artigo para dispor sobre a obrigatoriedade de cobertura de serviços móveis nas rodovias federais e estaduais. A proposta foi aprovada pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática e está pronta para deliberação do plenário do Senado Federal, aguardando inclusão em Ordem do Dia pelo presidente Davi Alcolumbre (DEM).
Do ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), o projeto estabelece que a cobertura poderá ser compartilhada, desde que abranja todos os usuários das diferentes operadoras e que não resulte em custo adicional. As despesas da mudança que não possam ser recuperadas com a exploração do serviço seriam cobertas pelo Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações.
Em sua justificativa, o parlamentar havia citado prejuízos por conta da falta de cobertura nas estradas, como em casos de acidentes ou incidentes, onde “os viajantes não têm a possibilidade de acionar os serviços de socorro ou de emergência, o que, além dos prejuízos materiais, pode custar a vida de feridos”. Outro tópico destacado pelo ex-senador envolve serviços como o de rastreamento de cargas, para maior segurança ao transporte. Entretanto, atualmente, a alternativa utilizada é de comunicação via satélite, mais cara, algo inacessível para pequenas empresas.
Fonte: Tribuna de Minas