Fábrica de Crises
Passado o Carnaval, onde tivemos que tolerar o mal humor das escolas de samba, sem patrocínio das estatais, esculhambando o Presidente e o seu Governo. Estamos agora, finalmente, no início efetivo de 2020. Legislativo e Judiciário voltam a funcionar, espero, depois de seus enormes recessos e a expectativa é a de que as coisas comecem a andar.
Os cenários pós Carnaval são preocupantes. O Coronavírus chegou ao país e se sabe muito pouco sobre ele. Aqui, com uma estrutura de saúde normalmente sobrecarregada, qualquer nova endemia sempre preocupa. As autoridades de saúde têm se mostrado diligente para com os casos suspeitos, e tentam não alarmar a população, mas a verdade é que a situação causa preocupação em todo o mundo e não temos como ficar imunes a isso. Temos um grande desafio de saúde pública vindo em nossa direção. Esperamos serenidade de todos e que se evite a ideologização dessa crise, como tudo que acontece por aqui. Misturar ideologia com esse problema não ajudará a ninguém e poderá criar pânico desnecessário na população. Imagens de ontem já mostravam pessoas usando máscaras na Avenida Paulista.
O Brasil tem se transformado em uma fábrica de crises, a maioria delas imaginárias. A mais recente começou quando o Presidente deu seu apoio aos movimentos de populares, desgostosos com o Congresso. Aí começou a se falar em crise institucional, impeachment e o escambau. A questão que me vem é: Tem alguém satisfeito como o Congresso, que criou um Fundo Eleitoral Bilionário, que criou um Juiz de Garantias para atrasar, mais ainda, o julgamento dos crimes de corrupção, que desfigurou o pacote anticrime do Juiz Moro, que vem deixando caducar, sem votação, as Medidas Provisórias do Governo, que sentou em cima da votação da Lei da Prisão em Segunda Instância, que se nega a analisar pedidos de Impeachment de Juízes do Supremo, sob suspeita de ganhos financeiros através de suas esposas, operando em escritórios de advocacias, e que agora, quer abocanhar 30% da verba de investimento da União para gastar em emendas eleitoreiras, sendo que essas emendas são a maior causa de obras paradas Brasil afora? Tem alguém satisfeito com esse Congresso? Tirando os bandidos e seus apoiadores, eu acho que não tem ninguém satisfeito. Esse povo aborrecido, com esse Congresso não tem o direito de ir para as ruas mostrar seu descontentamento? Eu acho que tem, isso se chama democracia. O Presidente da República não pode apoiar os insatisfeitos com o Congresso? Eu acho que pode e deve. Mas para a mídia, tudo isso põe em risco a nossa Democracia, para essa gente, apoiar bandido e ações contrárias ao interesse público é que preserva a Democracia. Lamento discordar, mas acho que isso é que destrói uma Democracia.
Nessas horas de histeria e insensatez é sempre bom olhar para o passado. Quando estourou o escândalo do Mensalão, no primeiro mandato do Lula, tudo indicava o impeachment do Presidente. A indignação popular era grande e o esquema era extenso, envolvendo diversos setores do Governo, deixando a questão do Collor parecendo roubar doce de criança. Nesse momento, a título de “Preservar nossa Democracia” começou a se elaborar um grande “acordão” para preservar o Presidente. Todas as responsabilidades pelas tramoias do Mensalão foram descarregadas nas costas do José Dirceu, ficando o Lula como o inocente Presidente que não que não sabia de nada. O Supremo fez o julgamento, ignorando todas as evidências que apontavam para a Presidência da República. Esse grande “acordão” para salvar o Lula foi conduzido pelo Fernando Henrique, os caciques do PSDB e os seus aliados ao Centrão. Essas pessoas achavam que o Lula, pós mensalão, estaria ferido de morte e que a Presidência da República cairia no colo deles por gravidade. Tudo feito obviamente em nome da salvação da nossa Democracia. Passado o mensalão e mesmo durante o seu julgamento, o Presidente Lula colocou para andar o Petrolão, com os recursos extorquidos da Petrobrás aliciou uma sólida maioria no Congresso, dando origem a um projeto de poder corrupto que durou mais de uma década e que só terminou com o impeachment da Dilma, sendo esse, sem dúvidas, o período mais obscuro de nossa Democracia, com a corrupção chegando a níveis de campeã mundial. Desse episódio eu tirei uma grande lição. Não se preserva Democracia alguma apoiando bandido e espoliação do patrimônio público.
Se dia 15 tiver manifestação, estarei lá. Já passei da idade de contemporizar com coisa ruim, seja a que título for. Esse Congresso me envergonha e pretendo sai às ruas para dizer o que penso dele.
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