Em uma década, a liderança feminina no agronegócio mineiro cresce 46%
Últimos levantamentos do Censo Agropecuário do IBGE apontam um salto de 59,3 mil estabelecimentos conduzidos por mulheres, em Minas, para 86,7 mil, entre 2006 e 2017
Em dez anos, a participação da mulher no agronegócio saltou 46% em Minas Gerais, conforme o último Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2006, eram 59,3 mil estabelecimentos agropecuários liderados pelo gênero feminino no estado. Em 2017, o dado já correspondia a 86,7 mil. No segmento, o aumento de mulheres à frente da tomada de decisões foi de 28%, entre 2006 e 2017.
E não faltam histórias de coragem, pioneirismo, perseverança e criatividade que deem vida aos números. As cafeicultoras Leila do Carmo Lenes e Margarida Camarini Santos contam que decidiram investir na cafeicultura na década de 1990, com o plantio de sete hectares de café no município de Cambuquira, no Sul de Minas. Com uma produção pequena para se manter no mercado de commodities, elas investiram na qualidade como diferencial do seu produto. “A gente inovou pela necessidade de criar mercados. O empreendedorismo exige muita criatividade, precisamos reciclar com frequência e a mulher tem muita capacidade para isso”, explica Leila. Com a orientação técnica da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater), as produtoras conseguiram o primeiro selo do Certifica Minas Café em 2011.
A produtora Maria Teresa Boari, do município de Coronel Xavier Chaves, lembra que acreditou no seu projeto de produção de queijo artesanal e não se intimidou com o fato de trabalhar com uma equipe predominantemente masculina. “Zona rural é mais machista do que a cidade e tem lá suas complicações. É preciso seguir firme com as nossas crenças. A mulher é atenta, cuidadosa e essa sensibilidade tem que vir ao mundo. São essas qualidades que trazemos para o campo, não ao cuidarmos da casa, mas quando entramos no negócio”, aponta.
Pioneira na produção de azeite em Maria da Fé, Neide Maria Batista Soares conta que o interesse pelo cultivo foi motivado pelas pesquisas da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) que comprovaram qualidade e produtividade do cultivo das oliveiras em Maria da Fé. Em 2005 ela iniciou o plantio, três anos depois já produzia o primeiro azeite para consumo próprio e, em 2010, a produção atingiu escala comercial.
“A mulher coloca o olhar apurado e detalhista nos processos, no cuidado, na imagem da marca e nas tratativas de comercialização. Isso se reflete na apresentação do produto ao mercado e nos resultados”.
E tem agricultora que já fez do público feminino sua principal clientela transformando produto do agro em cosmético. A primeira extração de azeite extravirgem de oliva em Maria da Fé, em 2008, inspirou a farmacêutica Vânia Gonçalves a investir no uso do produto e no aproveitamento do bagaço da azeitona para a fabricação de uma linha de cosméticos (sabonete, creme, óleo de banho, dentre outros). “Tive uma farmácia de manipulação e usei a minha experiência empreendedora na criação da marca Jardim Secreto. É fundamental trabalharmos com o que gostamos e buscarmos nossa independência financeira”, defende.
Comments