Chafarizes, Medalhas e Títulos
Passados os eventos de final de ano o Brasil, lentamente, começa a voltar às atividades normais. As eleições de outubro começam a ocupar as agendas das cidades e seus dirigentes. O que se sabe sobre os eleitores é que eles estão insatisfeitos, com pouca paciência para as patacoadas políticas de ano eleitoral. As redes sociais estão atentas e as críticas são abundantes, mostrando um clima de animosidade, poucas vezes visto no cenário municipal. O povo esperando políticas de emprego, segurança e saúde e os políticos entregando chafarizes, medalhas e títulos.
O modelo de irresponsabilidade fiscal, praticado pelo PT, nos seus quase 16 anos de comando da União, deixou um saldo amargo e de difícil reversão. Os Estados e Municípios ou estão com as suas contas equilibradas, mas sem nenhum recurso para investimentos, como São Paulo e Santa Catarina, ou estão totalmente endividados sem condições de arcar nem com os custos das folhas de pessoal, como Minas e Rio, só citando os casos mais extremos. A situação dos Municípios é bastante parecida, quem está com as contas em dia, não tem dinheiro para coisa alguma. Nesse cenário árido, os políticos sobem ao palco, para as próximas eleições, tentando entreter a plateia com números de ilusionismo, dá-lhe chafarizes, título de cidadão honorário, medalhas de honra ao mérito e coisas inúteis do gênero.
Endividados ou sem recursos, restam aos Prefeitos sair à caça de Emendas parlamentares para poderem ter algo a oferecer ao distinto público. As Emendas Parlamentares, pela forma como são usadas, ou pela imprevisibilidade de sua liberação são hoje a maior causa de obras paradas e inacabadas do Brasil. É difícil não ver uma cidade onde não existe uma ampliação de hospital abandonada, redes de esgotos inacabadas, equipamentos estocados, sem utilização, frutos de usos dessas emendas, que nada mais são que moeda de troca de votos, nas Assembleias e no Congresso.
Qual o grande problema das Emendas Parlamentares? O problema é que elas invertem a ordem natural das coisas. Se um Prefeito quer construir um hospital, ele deve fazer um projeto, calcular o custo da sua implantação e viabilizar os recursos para tanto. Com as Emendas a coisa é diferente, o Deputado, atendendo aos pedidos de ajuda do Prefeito, comunica por exemplo, que conseguiu uma Emenda de R$ 200.000,00 para o município e aí cabe ao Prefeito arrumar um projeto que caiba dentro da Emenda, mesmo que o Prefeito consiga essa façanha, as Emendas são liberadas em parcelas e muitas vezes somente a primeira delas, quer por problemas de prestação de contas, ou simplesmente porque os valores podem ter sido contingenciados no orçamento originário. Por conta disso os Municípios vêm se tornando um verdadeiro cemitério de obras inacabadas e as Emendas um dos maiores instrumentos de desperdício de dinheiro público.
Assim prezado eleitor, se o Prefeito da sua cidade já começou a aparecer com Deputados, falando de Emendas conseguidas e novas obras, pergunte a ele o que houve com as obras paradas, que com certeza tem na sua cidade. Por que não terminar as obras inacabadas, ao invés de começar coisas novas, que fatalmente ficarão também inacabadas? O seu dinheiro merece respeito. Portanto, acho que o debate municipal passar prioritariamente, pelo levantamento das obras inacabadas e a solução para elas.
Obra inacabada é dinheiro público jogado no lixo, dinheiro público merece respeito. Corrupção não é só roubar, gastar mal e irresponsavelmente o dinheiro do povo é tão ruim como roubá-lo.
Enquanto o debate municipal começa a ganhar corpo, as coisas no âmbito federal continuam decepcionando. O Congresso não aprovou a criação do Banco de DNA de criminosos, proposto pelo Ministro Moro. Esse é um instrumento de todas as melhores polícias do mundo, mas os nossos deputados acharam que aqui não tem necessidade de se ter isso.
O Presidente andou tendo ideias de subsidiar luz para igrejas e templos. Eu particularmente, tenho reação alérgica à palavra subsídio, nunca vi um não criasse distorção e corrupção. Ao Presidente eu sugiro, modestamente, que tente diminuir a carga tributária em cima da energia elétrica, isso beneficiaria a todos os brasileiros e não só às igrejas. Gosto de políticas para todos e não para alguns. Políticas públicas que não atendem a todos, para mim é privilégio. Por isso subsídio sempre vira privilégio. O político tem que propor coisas para o bem de todos e não só para os seus grupos de interesse e de afinidades. Sai dessa Presidente. Pense em todos nós, e não somente em alguns de nós.
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